Carta aberta da APACAp sobre a possibilidade de greve

25 Maio

Caras professoras e professores, estamos mais uma vez às vésperas de uma possível greve na educação. Em primeiro lugar, gostaríamos de dizer que somos solidários na luta pela valorização da educação pública e por condições dignas de trabalho, ensino e estudo.

Ser aluno da educação pública é uma experiência nem sempre fácil. As notícias sobre interrupções de aulas no ensino público são temas recorrentes nos noticiários. Recentemente, o país se chocou com a brutal repressão aos docentes do Estado do Paraná.

O CAp UFRJ é uma instituição tradicional na universidade, e há décadas cumpre importante papel para a formação de professores, pesquisadores e alunos. Os desafios, entretanto, para manter o seu bom funcionamento têm sido inúmeros: há déficit de professores efetivos e de servidores técnico-administrativos, baixo orçamento para conservação e modernização de suas instalações e sua sede possui evidentes limitações frente às necessidades de prover bem estar, segurança e conforto para a sua comunidade acadêmica.

Nos últimos anos, a comunidade escolar do CAp UFRJ vivenciou duas greves, em 2011 e 2012, sendo esta última, no contexto da greve das instituições federais de ensino do país. Os alunos e familiares do CAp ainda sentem os efeitos de tais acontecimentos, não apenas na memória, mas também nas consequências pessoais e acadêmicas que estas representaram.

A vivência de uma greve não impacta igualmente os alunos de graduação, pós-graduação e os alunos do CAp. A maioria dos alunos do CAp são crianças e muitas não possuem autonomia e tampouco maturidade para compreender os sentidos de uma greve. Pela sua condição de vulnerabilidade social, a vivência do período de privação de aulas pode significar o isolamento, o desânimo com o estudo e o confinamento doméstico.

Faz-se necessário reconhecer, portanto, a especificidade das crianças e adolescentes que são alunos da UFRJ: não apenas pelas idades a partir dos 6 anos como também pelo calendário escolar diferenciado. O ano escolar, no CAp UFRJ, começa antes e termina depois do ano previsto para a graduação e pós-graduação. Assim, quando a crise nos serviços terceirizados adiou por alguns dias o início das aulas da graduação, este atraso implicou num prejuízo de 6 semanas para a comunidade Capiana.

Tais questões nos levam a perguntar: será que a singularidade dos alunos do CAp e de seus professores e funcionários não merecem ser consideradas como excepcionais num cenário de greve da universidade? Será que conferir um tratamento “igualitário” entre crianças e adultos é o mais justo e, inclusive, o mais correto frente ao nosso ordenamento jurídico? Como proceder para proteger os segmentos mais vulneráveis da universidade num contexto de greve e o que fazer para reduzir danos a indivíduos em uma etapa tão fundamental do seu desenvolvimento e processo de formação para a cidadania?

A comunidade de mães, pais, responsáveis e alunos do CAp reafirma aqui o seu compromisso na luta pela valorização da educação pública e por condições dignas de trabalho para docentes e servidores técnico-administrativos e de estudo para os alunos. Mas ao mesmo tempo, aqui estamos para pedir-lhes que considerem também as necessidades e vulnerabilidades das crianças e adolescentes do CAp, principalmente em tempos de greve, sendo oportuno refletir sobre a adoção de estratégias para redução de danos e proteção aos mais fragilizados.

APACAp – Associação de Pais, Alunos e Amigos do CAp UFRJ.

Rio de Janeiro, 25/05/2015

3 Respostas to “Carta aberta da APACAp sobre a possibilidade de greve”

  1. rebecca1967 25 de Maio de 2015 às 13:35 #

    Excelente essa carta. Concordo plenamente. Meu filho, que estava no 2o ano do EM quando ocorreu a segunda greve mencionada, certamente teve seu desempenho no ENEM no ano seguinte prejudicado. São consequências muito graves na vida de um jovem.

  2. Aloysio Costa 26 de Maio de 2015 às 8:43 #

    Quero parabenizar a Diretoria da Apacap pela explêndida carta. No passado, em uma reunião durante a Greve de 2012 expressei aos presentes o seguinte sentimento: Como posso aderir a um movimento que deixa sem aulas por tanto tempo as crianças do Cap. Há meios e meios para reivindicações que considero justas, porém o bom senso deverá sempre prevalecer. Qual foi o real ganho da última greve que teve meses de paralização?
    Vamos apoiar as reivindicações porém vamos exigir um tratamento diferenciado para as crianças do Cap.
    Aloysio Costa

  3. Antonio Carlos Benício 21 de Junho de 2015 às 22:10 #

    Nada contra as reivindicações dos Professores Públicos. Porém fica difícil engolir mais uma greve de professores quando todo o País se encontra em uma grave crise econômica com milhares de trabalhadores perdendo seus empregos e empresas fechando suas portas. Greve na Educação e Saúde só causam prejuízo aos seus próprios servidores e conduzem ao descrédito de renomadas instituições de ensino.

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