APACAp bate papo com o Prof. Fernando Villar

27 Jun

Apaixonado por Matemática, o Prof. Fernando Villar faz parte de um grupo de professores/pesquisadores cujo trabalho têm contribuído para a melhoria do ensino da Matemática no Brasil – através de livros, vídeos, programas educativos de TV e páginas da web.

Em bate papo com a APACAp, o professor deu dicas aos alunos de como “romper” com o medo da matemática e melhorar seu desempenho nessa matéria: “É criar o hábito de resolver os exercícios propostos regularmente e compreender o que está sendo feito, não apenas aplicando fórmulas em procedimentos decorados”, aconselhou.

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Coordenador do Setor Curricular de Matemática do CAp UFRJ, Fernando Villar compartilhou um pouco de seu trabalho e de sua trajetória até aqui, destacando a participação dos alunos na Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP) e explicou como este projeto reflete no trabalho do colégio.

Como tem sido a participação do CAp UFRJ na OBMEP?

O Colégio de Aplicação da UFRJ participa da OBMEP desde a primeira edição em 2005, e nossos alunos foram premiados em todos os anos. Era muito comum que grande parte dos jovens premiados fossem de escolas técnicas, dos colégios de aplicação, do Colégio Pedro II ou das escolas militares, por isso, em 2012, houve uma mudança no regulamento da OBMEP e essas escolas passaram a concorrer entre si, sendo classificadas como “escolas seletivas”. Por exemplo, atualmente há 200 medalhas de ouro em disputa nos níveis 1 e 2, 100 para cada nível, e os alunos das escolas seletivas disputam, no máximo, 40 no nível 1 e 40 no nível 2. É concedido um troféu à escola seletiva que alcançar o maior número de pontos em seu respectivo grupo. Em 2014, o CAp UFRJ conquistou 3 medalhas de prata e 14 menções honrosas e fez jus a um kit com materiais didáticos. Em 2015, nossos alunos garantiram 2 medalhas de ouro, 2 de prata, 3 de bronze e 15 menções honrosas, por isso o colégio ganhou um troféu. Estamos muito felizes com esse resultado e agradecemos a toda comunidade capiana pelo apoio e confiança que recebemos.

 Como é o processo de preparação da OBMEP e como os licenciandos participam?

A primeira fase da OBMEP é essencialmente uma disputa interna e 5% dos alunos com as maiores notas em cada nível são classificados para a 2ª fase. Consideramos importante aproveitar esse momento para que o maior número de alunos possa participar. As questões dessa fase costumam contemplar o raciocínio lógico e, por isso, são acessíveis mesmo para alunos de séries diferentes. Esse ano optamos por aplicar a prova somente para os alunos interessados, no contraturno, mas qualquer aluno do colégio pode participar. Eu gostaria de realizar a prova no horário regular, aplicada a todos os alunos, como já foi feito antes. Vamos discutir essa possibilidade entre os professores de matemática e, se for o caso, apresentar essa proposta à direção para o próximo ano.

Os preparativos para a 2ª fase costumam variar de ano para ano. Geralmente, nós disponibilizamos materiais para os alunos estudarem e marcamos horários para tirarmos dúvidas. Os licenciandos são sempre convidados a participar dessas atividades e costumam gostar muito do retorno dos alunos. Quando possível, nós utilizamos um ambiente virtual de aprendizagem (Moodle) para os alunos acessarem materiais, tais como banco de questões e provas anteriores, além de postarem suas dúvidas. Os alunos do Ensino Médio têm mais autonomia nos estudos enquanto os alunos do Ensino Fundamental demandam uma atenção maior. Nosso maior objetivo é que todos sintam orgulho de representar a nossa escola e trabalhem em equipe na preparação. Apesar da prova ser individual, valorizamos muito a colaboração entre os alunos e o sentimento de equipe.

Ex-alunos que foram medalhistas da OBMEP retornaram ao colégio como voluntários para ajudar na preparação dos alunos para a Olimpíada Brasileira de Informática? Como foi essa experiência?

Isso já aconteceu sim e foi muito bom. No final de 2014, encontrei a ex-aluna do CAp, Ana Thais Castro de Santana, no Centro de Tecnologia da UFRJ. Ela estava cursando engenharia e relatou o quanto foi importante para ela a formação recebida em nossa escola. Ela se propôs a ir ao colégio para preparar os alunos para a Olimpíada Brasileira de Informática – OBI. Foi uma experiência muito boa para todos. Na época, a professora Leticia Rangel era coordenadora de matemática e deu suporte aos alunos e à Ana Thais para a realização desse trabalho, cujo resultado mais expressivo foi a medalha de prata conquistada pelo jovem Pietro Amorim Fraga.

Alunos do CAp UFRJ participam do Programa de Iniciação Científica que incentiva os medalhistas a perseverar no estudo da Matemática?

Essa pergunta é muito importante. Todos os alunos medalhistas são convidados a participar do Programa de Iniciação Científica Jr – PIC, no ano seguinte. Até 2015, além de uma bolsa de estudos no valor de R$100, os alunos participavam de um curso presencial dividido em 10 encontros ao longo de cada ano. Os medalhistas do CAp sempre participaram desse curso de formação. As atividades do PIC são realizadas em polos, sob a supervisão de professores orientadores. É algo que extrapola os muros da escola. O professor Leo Akio e eu fomos professores orientadores do PIC durante muitos anos e levamos a experiência adquirida nesse curso para todos os alunos do CAp UFRJ. Atualmente o PIC é realizado à distância, em uma plataforma de ensino da OBMEP na Internet.

Os pais têm muita expectativa em relação ao desempenho dos filhos em Matemática. Em parte somos assombrados pelo baixo desempenho da aprendizagem na educação pública, e também pelo tímido avanço do Brasil nos sistemas de avaliação como o Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. O que pode contribuir para o aluno ser bom em Matemática?

Os resultados do CAp UFRJ nessas avaliações têm sido muito positivos. Por exemplo, no último resultado do ENEM divulgado, a média dos alunos do CAp UFRJ em matemática foi 673,78 enquanto a média nacional nessa área foi 473,50. Entendemos que há espaço para melhorarmos e trabalhamos seriamente para isso todos os dias. Uma ação importante é romper com os “traumas” da matemática, buscando retirar o medo dos alunos dessa matéria. Em nosso entendimento a matemática é encantadora e desafiadora e sua beleza merece ser reconhecida por todos. Isso nos motiva a cada aula. Uma dica para qualquer estudante melhorar em matemática é criar o hábito de resolver os exercícios propostos regularmente e compreender o que está sendo feito, não apenas aplicando fórmulas em procedimentos decorados.

Em 2015, o pesquisador carioca Artur Ávila recebeu a Medalha Fields, conhecida como o Nobel da Matemática, a maior premiação já recebida por um matemático latino-americano, em reconhecimento à pesquisa sobre a Teoria do Caos. Em 2018, o Brasil sediará o Congresso Mundial de Matemática, que pela primeira vez será realizado na América Latina. Essas são conquistas pioneiras que projetam nosso país na área da Matemática e nos impõem vencer o desafio de melhorar o ensino de Matemática, sobretudo na Educação Básica. Como as pesquisas sobre o ensino da Matemática que estão em desenvolvimento no CAp UFRJ se associam a esses esforços?

Vitórias pontuais como o aprendizado de um conteúdo novo por um aluno em sala de aula bem como as grandes vitórias conquistadas pelos matemáticos Artur Ávila e Marcelo Viana, premiados internacionalmente, nos motivam a manter os esforços cotidianos em prol da melhoria do ensino de matemática. A conquista da Medalha Fields por um brasileiro representa um avanço extraordinário e pouco compreendido pelos políticos brasileiros que, a meu ver, não deram o devido valor. A recente conquista do matemático Marcelo Viana, vencedor do principal prêmio científico da França, é igualmente extraordinária e deixa claro que a pesquisa em matemática realizada no Brasil tem sido estabelecida em bases sólidas. O professor Marcelo Viana é diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), instituição de pesquisa de ponta reconhecida internacionalmente, com sede no Rio de Janeiro. É uma pessoa incrível e tem contribuído muito para a aproximação entre a pesquisa matemática e a matemática escolar.

Muitas pesquisas e trabalhos desenvolvidos pelos professores de matemática do CAp UFRJ têm contribuído para a melhoria do ensino de matemática no Brasil e se materializado em livros, vídeos e páginas web.

A contribuição mais recente está na forma de livros escritos pela professora Leticia Rangel (CAp/UFRJ) em coautoria com Cydara Ripoll (UFRGS) e Victor Giraldo (IM/UFRJ) publicados pela Sociedade Brasileira de Matemática. A coleção Matemática para o Ensino aborda o estudo dos conjuntos numéricos na Educação Básica e está dividida em quatro volumes: Números Naturais, Números Inteiros, Números Racionais e Números Reais.

Coleção Matemática para o Ensino

Esta série pode ser adquirida na loja virtual da Sociedade Brasileira de Matemática

Outra contribuição na forma de livro é Formação docente, pesquisa e extensão no CAp UFRJ: entre tradições e invenções (Organizadoras: Mariana Lima Vilela, Graça Regina Franco Da Silva Reis, Carla Mendes Maciel), pela FVG Editora.

No campo audiovisual temos as séries de TV escritas por mim para a TV Escola: “Os Exploradores de Kuont”, “Sua Escola Nossa Escola Matemática” e “Matemática em Toda Parte 2”. Essa última é apresentada pelo professor Leo Akio (CAp/UFRJ). Todas as séries estão disponíveis na web.

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Making of de Os Exploradores de Kuont

Assista aqui a série completa – Os Exploradores de Kuont

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Making of  de Sua Escola Nossa Escola Matemática

Assista aqui a série completa de Sua Escola Nossa Escola Matemática

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Making of da série  Matemática em Toda Parte II

Assista aqui a série completa de Matemática em Toda Parte II

O professor Leo Akio tem difundido seus estudos sobre Matemática Inclusiva, principalmente para pessoas com síndrome de Down, em palestras ministradas em muitos estados brasileiros (Assista aqui). Além disso, é responsável por gerenciar grupos de professores na Internet, reunindo milhares de pessoas que compartilham informações sobre pesquisas ou práticas de ensino e aprendizagem.

Muitos materiais produzidos pelos professores de Matemática do CAp UFRJ estão publicados no Portal do Professor do MEC: (http://migre.me/u93Z6)

Há outros trabalhos e pesquisas que não foram citados, mas creio que a lista apresentada ajuda a exemplificar a diversidade de formas de contribuição dos professores de matemática do CAp UFRJ para a melhoria do ensino desta ciência no Brasil.

Conte um pouco da sua trajetória acadêmica e sua carreira no CAp UFRJ.

Toda minha formação ocorreu em instituições públicas. No ensino básico estudei no Colégio Estadual Edmundo Bittencourt, em Teresópolis. Na época cursei simultaneamente o curso de formação geral (matutino) e o curso técnico em contabilidade (noturno). Para minha preparação para o vestibular, eu e alguns amigos montamos um curso pré-vestibular, contratando professores e cobrando uma mensalidade equivalente a um quinto da cobrada pelos outros cursos. Eu pude estudar sem custos e ainda ajudar a muitos jovens por oferecer um curso de qualidade e barato.

Fui aprovado em 1o lugar para o curso de licenciatura em matemática da UFRJ e concluí em três anos o curso que dura quatro, recebendo o certificado de Dignidade Acadêmica Cum Laude pelo meu desempenho acadêmico.

Assim que concluí o curso de licenciatura fiz um curso de Economia Matemática no IMPA e fui aprovado no concurso para o magistério no município de Teresópolis. Decidi fazer o mestrado em Matemática Pura na UFRJ e fui aprovado no concurso do CAp UFRJ em 2003, conquistando a única vaga existente. Descrevo detalhes da minha experiência profissional neste colégio no capítulo “ENSINO, SIM. PESQUISA E EXTENSÃO, COMO ASSIM?” do livro “Formação docente, pesquisa e extensão no CAp UFRJ: entre tradições e invenções”, publicado pela Fundação Getúlio Vargas em 2014.

É um enorme privilégio trabalhar com profissionais tão competentes como os que estão no CAp UFRJ. São muitos aprendizados todos os dias.

No período de 2008 a 2015, por ser professor do CAp UFRJ, fui convidado pela professora Maria Laura Mouzinho Leite Lopes para coordenar o Grupo de Tecnologias no Ensino e Aprendizagem de Matemática do Projeto Fundão. Que experiência fantástica! Nesse período pude trabalhar com ícones da Educação Matemática Brasileira tais como as professoras Lílian Nasser, Lúcia Tinoco, Marisa Leal, Cláudia Segadas e a admirável e encantadora profa. Maria Laura. As atividades do Projeto Fundão permitem um engajamento entre professores das redes municipal, estadual, federal e particular de ensino, bem como promovem interações com os estudantes de graduação. Em 2016 me afastei temporariamente das atividades do Projeto Fundão para me dedicar a continuidade da minha pesquisa de doutorado (concluído em 2014): Desenvolvimento de Jogos Digitais na Educação. Esse afastamento se deu principalmente porque em 2015 o meu projeto “Primogo”, de um aplicativo para smartphone, foi um dos ganhadores do concurso do Inovapps do Ministério das Comunicações, demandando maior dedicação.

Em 2016 assumi um cargo de muita responsabilidade no CAp UFRJ: a coordenação do Setor Curricular de Matemática. De fato, sinto-me muito feliz por coordenar uma equipe tão qualificada: a professora Leticia Rangel assumiu a coordenação do Grupo de Tecnologias do Projeto Fundão e tem desenvolvido trabalhos para a SBM,; o professor Leo Akio atua no Grupo de Pesquisa sobre Inclusão de Cegos e Surdos do Projeto Fundão, participa de um curso de extensão para professores das séries iniciais e desenvolve uma pesquisa na Escola de Educação Infantil da UFRJ; o professor Ulisses Dias, doutorando no PEMAT/UFRJ, tem pesquisado sobre o estágio supervisionado, em particular como os saberes oriundos da prática docente influenciam a formação inicial para o magistério, além de atuar como representante do CAp no comitê de educação básica da UFRJ; o professor Cleber Neto, é doutorando em Ensino e História da Matemática e da Física, no Instituto de Matemática da UFRJ, na linha de pesquisa em Ensino de Matemática e ligado ao grupo de Pesquisa do Laboratório de Práticas Matemáticas para o Ensino, além de realizar ações em um comitê editorial de coleção de livros, elaborar e revisar itens para avaliações em larga escala e participar de discussões sobre a reestruturação curricular da licenciatura em matemática na UFRJ; a professora Priscila Dias cursa o programa de doutorado em educação na universidade de Alberta, Edmonton, Canadá, investiga como o entendimento matemático de alunos do ensino médio se caracteriza e se desenvolve quando esses alunos se engajam em atividades de modelagem matemática; a professora Daniella Assemany, doutoranda na faculdade de ciências da Universidade do Porto, em Portugal, tem estudado propostas metodológicas para o ensino médio seguindo a ideia de engendramento de conteúdos e partindo do conceito de vetor, temática que surgiu dentro do próprio CAp UFRJ, nas suas aulas no ensino médio entre os anos de 2006 e 2014.

No trabalho realizado no CAp não há espaço para a monotonia. Um exemplo que gosto de citar para clarificar essa ideia é o projeto desenvolvido pelas professoras Priscila Dias e Daniella Assemany que modelaram um simulador para o Projac / Globo. Nesse projeto, para a construção do simulador de movimentos, foi necessário o desenvolvimento  de um modelo matemático implementado em um computador lógico programável (PLC) utilizado para movimentar uma plataforma em 6 direções diferentes (em 3 eixos distintos, x, y e z). A plataforma suportava até 5 toneladas e foi utilizada para gravações de novelas, minisséries e outras filmagens dessa natureza. Se um barco fosse colocado em cima da plataforma, diversos movimentos poderiam ser feitos para simular uma situação em que o barco estivesse em alto mar numa tempestade, por exemplo. Um simulador semelhante foi utilizado para as gravações do filme Harry Potter quando o ator principal voava em sua vassoura. O interessante desse trabalho foi que toda a matemática utilizada no modelo desse simulador faz parte do currículo de matemática do ensino médio no CAp UFRJ. Por conta disso, a professora Daniella, na época, desenvolveu um trabalho de modelagem com os alunos do 3º ano. Sem dúvidas um trabalho muito produtivo e interessante para os nossos alunos.

Obrigado pela entrevista Prof. Fernando. Fique à vontade para as  suas considerações finais. 

Agradeço o convite da Associação de Pais, Alunos e Amigos do CAp UFRJ pela oportunidade de compartilhar um pouco do trabalho realizado pelos professores de matemática desta escola.

 

 

 

 

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